Flor era uma mulher diferente. Enquanto suas amigas saíam para fazer compras em shoppings, em lojas badaladas de sapatos, , roupas e bolsas ou a cada ano queriam trocar seus celulares, em pouco tempo trocar seus carros e eletrodomésticos morando em casas enormes onde se perdiam, Flor andava de bicicleta, tinha o seu carrinho apenas para grandes necessidades, a casa não era enorme, porém, o quintal era enorme com horta, pomar, flores, muitos cachorros, pássaros que povoavam o seu jardim.
O lixo orgânico virava adubo, o reciclável virava vasos de plantas, artesanato, brinquedos para as crianças da vizinhança.
Ela também gostava muito de ler, passava horas lendo e na literatura enxergava a sociedade como ela é, o modo de pensar das pessoas, a essência do ser humano. A arte refletia a vida e a vida refletia a arte.
Em um dia de primavera sentou-se em seu jardim e ao invés de ler, escreveu com toda a inspiração da natureza e com tudo o que já tinha lido. Resolveu publicar aquilo tudo na internet mesmo para que todos lessem. Leram, comentaram, contudo, não entenderam exatamente sobre o que se tratava.
Flor não se entristeceu com todos aqueles fatos e resolveu, numa noite, observar as estrelas. Passou a fazer isso todas as noites, era incrível como os movimentos da Terra colocavam os planetas e as estrelas em posições diferentes no céu em cada estação do ano.
Em outras noites Flor pegava seu violão e tocava para o universo e para Mãe Natureza.
Ela morava na área rural de uma cidadezinha próxima a um grande centro onde trabalhava mediando conflitos, tentando fazer as pessoas entenderem que nem sempre havia um culpado.
Certa vez teve de mediar a briga entre um casal que se separava e disputava a guarda do único filho, o qual naquela disputa mais parecia um troféu do que uma criança. Ficava profundamente entristecida com isso, pois, para ela as pessoas deveriam se casar, amadurecer juntas antes de constituírem família, pois assim, não haveria vítimas.
Outro caso difícil que teve de mediar foi o de uma mãe que não aceitava a mudança de sexo da filha. Flor entendia que cada um era cada um, porém, a dificuldade que as pessoas tinham de aceitar-se como são, de como nascem perfeitamente. Até que um dia ela foi ameaçada por estar “se metendo muito” na vida dos outros. Então, teve de se afastar do trabalho e passou esse tempo afastada de tudo e de todos, entristecida, sem sair de casa como se acreditasse que se o mundo era daquele jeito ela iria acreditar no mundo ao seu próprio modo.
Eis que de repente começam-se a ver livros à venda com seu nome por toda parte. Ela havia feito agronomia e antropologia e por suas pesquisas científicas mostrou como a humanidade estava indo para o lado errado, e que, qualquer religião política não conseguiria salvá-la se as pessoas não voltassem a coexistir com a natureza da qual sempre fizeram parte, entendendo que a complexidade de problemas estava dentro de cada mente humana.