terça-feira, 13 de novembro de 2018

Conto


Rimas do aleatório
(Karin Gobitta-Földes)

As mãos, assim como o sorriso parecem que muitas vezes falam mais do que mil palavras. Ela parecia estar em busca das mãos perfeitas e um dia em um rápido olhar as achou. Eram lindas, fortes, mas ao mesmo tempo delicadas como se expressassem a beleza daquele ser interior, de seu dono. Mãos que cuidavam de plantas, que tinham a sensibilidade escondida no coração de quem as possuía.
Ela também gostava de plantas, mas sua sensibilidade transbordava em palavras, palavras que eram escritas pra ele, contudo que ele não fazia a menor ideia que existiam.
Uma paixão adolescente, um primeiro amor, o sonho de um casamento que nunca aconteceu, pois, o tempo passou, veio a maturidade e aquele amor todo, jurado para sempre, secreto, vindo de apenas um lado ultrapassou todas as barreiras e se transformou, se desabrochou como uma orquídea que nasce quando não é afogada pelas águas da paixão e nem queimada pelo fogo da mesma.
Na maturidade ela começou a ler os romances de épocas antigas e a entender realmente o que sentia, era amor verdadeiro, não mais uma paixão adolescente que se tem a necessidade do outro. O simples sorriso dele, saber que ele estava feliz era o suficiente para ela.
Um dia, num belo amanhecer ela viu sua orquídea sorrir para ela, havia tido um sonho que iria encontrá-lo conversar com ele e mal sabia que esse sonho se tornaria realidade.
Uma vez, tomara coragem, e disse que o amava, havia pedido um beijo, havia escrito em poemas sobre seu amor simples e sincero que não pediria nada em troca. Queria apenas sentar com ele e conversar, tomar um café, conversar sobre as coisas que tinham em comum. Queria apenas tê-lo como amigo, poder ouvir às vezes sua voz ao telefone, poder uma vez ou outra encontrá-lo para lhe dar um abraço.
Naquele dia, a orquídea e o sonho deram o sinal a ela. Deixou que as coisas corressem naturalmente como um rio e numa tarde de domingo que teve a surpresa do encontro que pôde, enfim, bater um papo e foi muito mais do que ela imaginava. Pôde abraçá-lo, beijá-lo no rosto e agradecer por simplesmente tê-lo em sua vida.

E ela o encontrou em uma trade, naquela cidade a beira mar, sem querer, em sua livraria favorita. Estava lá o pôster dele lançando seu livro, em poucos minutos estaria num bate-papo com seus leitores. E não a convidou? Não se lembrou dela? De qualquer forma resolveu dar uma olhada. Era preciso ter o nome na lista de convidados. Perguntou assim mesmo ao responsável pelo controle da lista que lhe disse que seu nome, sim, estava ali. E não era na lista geral, ela tinha direito a ficar na primeira fila. Ficou sem palavras. Mostrou a identidade e entrou. Mal conseguia acreditar que em poucos minutos o veria ali, sentado à sua frente. Finalmente, ele entrou. Feliz, respondia às pessoas e respondeu a ela sorrindo, como se estivesse feliz que ela estava lá.
Saíram daquele shopping juntos, foram tomar um café e ele pôde, então, explicar a ela como resolveu convidá-la. Na verdade, ele nunca jogou as cartas dela fora, tantas cartas enviadas e nunca respondidas. E, quando ele estava fazendo uma lista daqueles convidados para o lançamento do livro, viu em seu Facebook algumas poucas mensagens que trocara com ela. Isso fez com que ele fosse buscar as cartas dela para relê-las, lembrou dos poucos encontros que eles tiveram. Pensando que ela ficasse, por acaso, sabendo do lançamento do livro, ela iria tentar ir e lá estaria o nome dela.
- Não, foi mera coincidência, Martino. Eu estava apenas passeando pelo shopping e vi a movimentação. Fui até lá e meu nome estava lá.
- Quer dizer, Catarina, que você não soube nem por acaso?
-Não, tudo isso é uma grande surpresa pra mim.
Parece que o destino começava a dar um novo rumo à história de um grande amor que, até então, era uma lembrança no coração de Catarina.
Depois daquele encontro surpresa, Catarina e Martino mantiveram contato. Eram de países diferentes, Itália e Brasil. Eram de idades diferentes, pelo menos uma década e meia de diferença. Contudo, como ela sempre quis, se tornaram amigos.
Certo dia recebeu um e-mail dele dizendo que precisava sair um pouco de sua rotina, fazer coisas diferentes e que queria sair de Veneza (terrestre) e ir a uma cidade de interior no Brasil. Como sabia que ela morava em uma cidade no Sul de Minas resolveu perguntar se poderia visitá-la e ela disse que sim, porém, no fundo não conseguia acreditar que aquilo aconteceria de verdade.
Numa tarde de férias, Catarina descansava com um livro nos braços, quando de repente ouviu o interfone. Olhou pela janela e não acreditou no que via. Abriu a porta. Pegou a chave. Abriu o pequeno portão. Ele trazia apenas uma bolsa de colar laranja e bem grande.
Cumprimentaram-se e entraram. Ela mostrou-lhe o quarto de hóspedes onde tinha um armário e um sofá cama. Onde ela às vezes dormia com a TV ligada. E o banheiro social que ele poderia usar. Era fim de tarde. Começaram a conversar no sofá da sala. O telefone tocou. Era a mãe dela que estava viajando. Catarina nem mencionou Martino na conversa. Depois que desligou o telefone, ela disse:
-Era a minha mãe. Queria saber apenas se eu estava bem em casa, se estava sozinha e disse que sim.
-Mas, você não está sozinha?
-Minha mãe não sabe de você, nunca contei a ninguém sobre o que sinto por você.
- Por quê? Sua mãe não me aprovaria? – disse Martino rindo.
-Ah, deixa pra lá... Acho que as pessoas até imaginam que você exista, mas...
-Mas... Ninguém me aprovaria por ser mais velho e morar longe?
-Ah, acho que sim... E depois, somos só amigos, né? Já está escuro, vamos fazer um lanche?
-Tudo bem.
E juntos tomaram o lanche e logo foram dormir. Catariana cedeu sua cama a ele e foi dormir no sofá cama do quarto de hóspedes.
No dia seguinte, foram andar de bicicleta pelo bairro, foram ao clube onde se divertiram na piscina. Fizeram um almoço bem brasileiro com salada de alface, tomate, cebola e palmito, com suco de abacaxi e um prato de arroz, tutu, couve refogada e mandioca frita. Um pudim de leite como sobremesa.
No final da tarde resolveram, com o calor, nadar na casa de Catarina mesmo. A piscina não era tão grande, porém, ficaram ali conversando, seus rostos se aproximaram e se beijaram.
Logo, uma tempestade parecia surgir no horizonte, entraram tomaram banho, fizeram um lanche com coisas típicas de Minas e quando acabaram de colocar a mesa a energia acabou. Foi um jantar à luz de velas. Aproveitaram e depois viram as poucas fotos que tinham juntos e os poemas que ela escrevera a ele em italiano. Martino pegou o violão dela e começou a cantar músicas em inglês que tinham tudo a ver com a história dos dois.
Catarina adormeceu no sofá e Martino levou-a em seu colo até o quarto dela. Ficou a olhá-la, acabou abraçando-a e adormecendo também.
No dia seguinte se divertiram mais e aproveitaram o horário de verão para ficarem até mais tarde na piscina da casa de Catarina. A lua já estava no céu quando outro beijo aconteceu.
Depois do jantar conversaram muito, riram, tomaram um bom vinho e mais uma vez Martino levou Catarina já quase adormecida em seus braços para a cama dela. Ali, deitou-se ao lado dela e com o rosto tão perto ao dela deu-lhe um beijo de boa noite que a fez despertar e os dois acabaram dormindo juntos com a janela do quarto aberta e a lua sendo testemunha de tudo.
No dia seguinte Martino tinha que partir, tinha uma vida na Itália. O sonho de verão estava acabando. Pegou suas coisas e se foi prometendo manter contato e que da próxima vez iriam juntos ao litoral.
Catarina também tinha que seguir com sua vida e ela sabia que a correria cotidiana a faria esquecer dele, contudo, quando chegasse o próximo verão a saudade iria arder e eles estariam juntos em Capri ou em uma pitoresca cidade de praia no litoral de São Paulo. Seis meses sempre se passariam rápido.

Copyright Karin Gobitta-Földes

terça-feira, 1 de maio de 2018

Teatro

"Teatro"

Eu tinha quase tudo, o teatro, o palco, o ator principal. Faltava-me a experiência.

Agora continuo tendo tudo, o teatro, o palco, a experiência, contudo, falta-me o ator principal.

Um dia sei que terei tudo isso e a platéia também que não precisará aplaudir-me de pé, porém, que certamente ficará muito feliz com o meu trabalho, pois, eu o farei muito bem nesse teatro chamado vida.

Karin Földes

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Poetando...

“Tempus fugit”

Mais um ano que se esvai.
Uma data especial
Que em meu coração cai.

Grande é a distância,
Pequena de sentimentos,
É a mudança.

Como não celebrar o dia,
No coração a alegria.

Menino eterno.
Juras tenras que o tempo mudou,
Mas não apagou.

Que os anjos te abençoem sempre.


Karin Földes





“Voz”

Uma voz que toca o coração,
Que de alguma forma faz com que
Ele bata mais forte.

Uma voz que dá um norte,
A uma vida,
Da adolescência à maturidade.

Um ser distante,
Porém sempre presente com sua voz
Em sonhos especiais.

Talvez nem ele saiba
Que um simples sussurro
É capaz de iluminar uma vida



Karin Földes