segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Rimas do aleatório

Rimas da vida

As mãos, assim como o sorriso parecem que muitas vezes falam mais do que mil palavras. Ela parecia estar em busca das mãos perfeitas e um dia em um rápido olhar as achou. Eram lindas, fortes, mas ao mesmo tempo delicadas como se expressassem a beleza daquele ser interior, de seu dono. Mãos que cuidavam de plantas, que tinham a sensibilidade escondida no coração de quem as possuía.

Ela também gostava de plantas, mas sua sensibilidade transbordava em palavras, palavras que eram escritas pra ele, contudo que ele não fazia a menor ideia que existiam. 

Uma paixão adolescente, um primeiro amor, o sonho de um casamento que nunca aconteceu, pois, o tempo passou, veio a maturidade e aquele amor todo, jurado para sempre, secreto, vindo de apenas um lado ultrapassou todas as barreiras e se transformou, se desabrochou como uma orquídea que nasce quando não é afogada pelas águas da paixão e nem queimada pelo fogo da mesma.

Na maturidade ela começou a ler os romances de épocas antigas e a entender realmente o que sentia, era amor verdadeiro, não mais uma paixão adolescente que se tem a necessidade do outro. O simples sorriso dele, saber que ele estava feliz era o suficiente para ela.

Um dia, num belo amanhecer ela viu sua orquídea sorrir para ela, havia tido um sonho que iria encontrá-lo conversar com ele e mal sabia que esse sonho se tornaria realidade.

Ela já tinha dito que o amava, havia pedido um beijo, havia escrito sobre seu amor simples e sincero que não pediria nada em troca, afinal, ela tinha um namorado e ter outro romance não era seu intuito. As coisas eram bem divididas, o marido era o marido, e esse amor sincero era outra coisa bem diferente. Queria apenas sentar com ele e conversar, tomar um café, conversar sobre as coisas que tinham em comum. Queria apenas tê-lo como amigo, poder ouvir às vezes sua voz ao telefone, poder uma vez ou outra encontrá-lo para lhe dar um abraço.

Naquele dia, a orquídea e o sonho deram o sinal a ela. Deixou que as coisas corressem naturalmente como um rio e numa tarde de domingo encontrou-o para bater um papo e foi muito mais do que ela imaginava. Pode abraçá-lo, beijá-lo no rosto e agradecer por simplesmente tê-lo em sua vida. Disse tinha-o como irmão, um amor fraterno, puro e simples. E ele confessou que a procurou pela internet para que pudessem ter contato. Agora estava tudo certo. Mas ela tinha que partir da cidade, tinha o casamento de uma amiga em outro lugar para ir, um lugar longe dali. Ele estava de férias e então foram juntos.

Todos aqueles sonhos de adolescente às vezes vinham à cabeça dela, mas não era mais aquilo que ela queria.
Chegaram à igreja, a amiga não acreditou que finalmente pôde conhecer pessoa tão especial. Foi uma celebração dupla. O casal foi para a lua de mel e os dois amigos (ele e ela) foram passar o tempo livre na praia. Depois, foram à casa dela onde se divertiram um bocado e solidificaram uma amizade que parecia ser verdadeira.Contudo ela sabia que os sonhos não terminam como músicas, que o brilho das estrelas não se apaga ao tocar. Aquilo continuaria. Ele teve que partir. Apenas um beijo de despedida e a promessa de que celebrariam novamente essa possível amizade no próximo verão, porém do hemisfério norte.

Os dois amigos, então, apenas se falaram por telefone. Ele esteve ocupado com vários projetos, muito trabalho e ela também.

Em uma noite fria de junho, o telefone tocou e Luísa (a nossa moça) atendeu, era Enrico, seu agora, amigo. Havia ligado para convidá-la a passar suas férias de inverno (no hemisfério sul) na bela Itália onde ele tinha, perto de Treviso, uma casa  a beira do lago. O convite incluía passagens, a estadia, o transporte, a alimentação, tudo. Era um grande e maravilhoso presente de aniversário para ela.

Roma ela já conhecia e Vêneto, a cidade natal dele, também. Foram então, para Veneza, Trieste, Turim, Florença. Conheceram todo o norte daquele país e obviamente apreciaram tudo o que sua culinária tem a oferecer.

À noite, ficavam, quando estavam em Vêneto, a beira de um pequeno lago ou na varanda da casa dele falando sobre o passado, sobre suas vidas, vendo fotos antigas dele (como fizeram na casa dela) e rindo do que, agora, era engraçado. Ela sorria apenas de ver o brilho daqueles olhos azuis de menino, de um bambino italiano.

Foi trocando ideias que decidiram trabalhar juntos em alguns projetos, principalmente nos sociais, já que ela era formada nisso.

Os projetos ambientais também estavam no meio e planejaram conhecer a Amazônia (na verdade, ele já conhecia) e os lugares que precisavam de apoio social que ela conhecia e onde trabalhava.

Os dias passaram rápido, mas foram proveitosos. Resolveram ainda visitar a Alemanha e a Hungria. Berlim era realmente linda, não parecia uma cidade que fora devastada pela guerra e ídem Budapeste. Postam, ao lado de Berlim, era tão linda como a capital alemã. A zona oriental, como a Alemanha em si, eles aproveitaram muito. 

De lá resolveram ir para Madri onde puderam assistir a um concerto de um cantor madrileno famoso. E de lá, finalizaram a viagem em Londres, cidade que Luísa sonhava morar com Enrico ainda quando ela era uma adolescente sonhadora ou em Oslo, onde os dois visitaram um grande amigo de infância de Enrico pelo qual Luísa um dia fora apaixonada.


Foi na bela capital norueguesa que Enrico e Luísa finalmente se despediram. Acabaram por passar ao invés de um, dois meses juntos. De lá ele voltou para a sua "bella Itália" e  ela atravessou o Oceano Atlântico rumo à sua América Tropical.

Talvez agora ficassem mais seis meses conversando apenas por telefone e internet. O grande fato é que Enrico parecia começar a se apaixonar por Luísa e ela, confusa, achava estar apaixonada por Martino, o grande amigo de Enrico que ela já se apaixonara em segredo.

Martino era casado com Elena e Enrico possuía uma namorada, Ingrid. Luísa também possuía um marido e achava que nunca mais se apaixonaria por outra pessoa.

Luísa já conhecia Liliana, irmã de Martino. As duas se conheceram pela internet e quando, pela primeira vez Liliana esteve no Brasil as duas se encontram e se tornaram grandes amigas.

Enquanto Enrico se envolvia com muitas coisas, outros países, lutas por democracia onde ainda não havia, amizades com presidentes, planos para ajudar a acabar com um preconceito, num novo racismo que agora invadia a Europa, Luísa estava de frente com um trabalho social burocrático, muitas vezes emperrado com projetos normalmente utópicos e nada práticos. Contudo, teve a grande notícia que Martino iria fazer uma exposição beneficente de arte no Museu de Arte Moderna de São Paulo, o famoso MASP.Ela deu todo o seu apoio e passou cada dia dando todo seu suporte a ele.Aquele anjo que de repente a tirava daquela vida tão atribulada.

Anjo que ela percebeu ser mais um grande amigo, mais um raio de sol que ela tinha em sua vida, assim como Enrico. Como esses dois eram tão importantes em sua vida, suas amizades, seus sorrisos, suas simples alegrias e existências.

Martino percebeu o mesmo e viu que nunca deixaria sua esposa e família, por mais que no passado tivesse errado com eles.

Já Enrico ainda procurava o grande amor de sua vida, talvez fosse Luísa, mas talvez agora fosse tarde demais já que suas vidas tomaram rumos diferentes e Luísa sabia que mesmo que isso não tivesse acontecido, eles nunca estariam bem como mais do que amigos. Esse era um sonho que ela talvez tivesse realizado e não queria estragar de jeito nenhum, por mais que às vezes tivesse suas brigas e chateações com seu marido.

Luísa gostava muito de Enrico, era o que suas amigas comentavam. Mesmo assim, ficaram sem se falar por cinco meses e quando se encontraram conversaram bastante.


Ele já havia se separado três vezes e tinha um filho que era a sua cara, era de seu primeiro casamento e esse tinha uma irmã que era a cara da mãe. Nos outros dois casamentos adotou duas meninas lindas. Sua família sempre fora grande, sua mãe, Catarina, já havia falecido há poucos anos e ele tinha dois irmãos e duas irmãs. Ele queria viver sozinho, gostava das mulheres, mas não para relacionamentos sérios. Porém, queria adotar uma menina que vivesse com ele. Contudo, não queria fazer isso sozinho, por mais que pudesse. Ele queria que menina tivesse uma mãe, mesmo que longe e pensou em Luísa. Seria apenas um favor que a amiga faria a ele. Ela, apesar de casada não pensava em filhos e acabou aceitando a proposta.

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